POR UM AUTÊNTICO ITINERÁRIO QUARESMAL

Opinião

O tempo da Quaresma é colocado para toda a Igreja como um itinerário simbólico- espiritual em que caminhamos rumo à páscoa. Esse período de 40 dias (número que se reveste de um simbolismo importante) é marcado por uma constante exortação da progressão no conhecimento de Jesus e a correspondência a seu amor por uma vida santa.

É neste tempo que a Igreja convida a se escutar com mais freqüência a Palavra de Deus. Também o povo é convidado a ter uma vida marcada pela oração mais intensa, atrelada às praticas de caridade e ao jejum. Engana-se, porém quem alimenta uma espiritualidade quaresmal reduzindo esse tempo a um reviver, pela penitência, os sofrimentos de Cristo. O enfoque deve mudar. Na verdade, o fundamento da Quaresma encontra-se na Páscoa. Nesse tempo, trilhamos o itinerário de Cristo, que sobe à Jerusalém, percorre o caminho da Cruz e passa, através da morte, à nova vida que o Pai lhe dá por seu Espírito. A cada ano, os cristãos e suas comunidades eclesiais revivem essa experiência pascal. O desafio da Igreja comprometida com a nova evangelização está em assumir a penitência como método de conversão e unificação interior, como caminho pessoal e comunitário de libertação pascal.
A partir dessa nova dimensão, o cristão vai compreendendo o tempo quaresmal como um tempo favorável de avaliação de nossas escolhas e ações diante da vida, do trabalho, da caminhada vocacional, formativa, para assim, corrigir os erros e aprofundar a dimensão ética da fé, abrindo-nos aos outros e realizando ações concretas de abertura ao próximo. De tal maneira, em tempos de uma “Igreja em saída” somos convidados a sairmos de nós mesmos e assumirmos a dinâmica do encontro, do diálogo com os povos e as culturas diferentes e descobrir que o sentido da vida está no ser presença amorosa (tal qual a de Deus) na vida do outro. A simbologia e práticas próprias que a Igreja nos oferece nesse período, são importantes e devem falar ao coração. A cor roxa, as cinzas, a cruz, o jejum, a esmola, devem nos ajudar a lembrar do caráter de conversão próprio desse tempo e nos convidam a dar mais atenção à Palavra de Deus e a prosseguir no caminho de solidariedade e doação para com o próximo. A água, a luz, a insistência sobre a força da vida que vence a morte são elementos que nos convidam a fazer da quaresma um tempo de catequese batismal e renovação do nosso próprio batismo. Assim, as práticas quaresmais falam, nos convidando a algo mais: somos convidados a reascender a chama do amor em nossos corações, por vezes gélido e quase se apagando em nós.
O Papa Francisco nos convida a percorremos com ardor o caminho da Quaresma, apoiados na esmola, no jejum e na oração. Mas conscientes de que “se por vezes, o amor parece se apagar de nossos corações, este não se apaga do coração de Deus! Ele sempre nos dá ocasiões, para podermos recomeçar a amar” (Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2018). Dessa maneira, estaremos trilhando autenticamente o caminho quaresmal, aguardando ansiosos a noite de Páscoa, na qual “a luz de Cristo, gloriosamente ressuscitado, nos dissipa das trevas do coração e do espírito” (Missal Romano, Vigília Pascal). Portanto, a nossa atitude deve ser nessa Quaresma a que nos sugere São Bento: “Na alegria do desejo espiritual, esperem a Santa Páscoa!”.

Frei Jackson Brasil Gomes -noviço, sia —27 anos